Em 2018, Wood’s de Curitiba não parecia ir bem das pernas e denotava que o fim estava próximo. A casa andava pouco frequentada e as festas, vazias. Um cenário contrário do que se apresentava nos 13 anos anteriores: uma Wood’s lotada e festiva aos fins de semana. Era gente se apertando para chegar ao bar e dançar a música sertaneja. Um local movimentado.
Os maiores e mais conhecidos nomes do sertanejo marcaram presença no palco, fomentando o consumo do estilo musical na cidade e construindo uma das pistas de dança mais cheia de Curitiba. No momento do seu declínio, a casa funcionava no seu segundo endereço, o número 387 da Rua General Mário Tourinho, no bairro Seminário, Curitiba.
A culpa é do gelo
Havia quem bebesse até passar mal e quem passava mal devido ao aperto da multidão. Até surgiu a lenda urbana de que “o gelo da Wood’s dá loucura”. A pegação era garantida – quando não beirava o assédio. Uma coisa era certa: a bilheteria dava saldo positivo e a balada fervia.
Clientes assíduos, por anos, referiram-se à casa não como Wood’s Bar, mas “Wood’s Lar”. O apelido pegou, até que…
A Wood’s fechou
No dia 6 de junho de 2018, a Wood’s encerrou o ciclo com uma celebração à sua história: uma festa com artistas que fizeram parte da biografia da casa. Após a saída do último cliente, as portas se fecharam definitivamente. Foi uma despedida. O público mudou, o movimento caiu. “Vai mal das pernas”, disse 2 meses antes uma ex-funcionária.
Em 13 anos de história, foram 2 milhões de pessoas e mais de 2 mil festas. A casa ganhou 9 vezes o prêmio Top of Mind na categoria Balada. E se diz a pioneira em balada sertaneja no Brasil – além de ter sido, até hoje, a balada sertaneja mais comentada de Curitiba.
“A Wood’s tinha a elite. Tive mais bons momentos lá do que nas baladas que surgiram depois que abrimos”, relembra com nostalgia o advogado e empresário Rhaman Hamdar.
Pegação ou assédio?
“A Wood’s era 90% pegação e 10% curtir a música”, recorda um ex-frequentador. Nem tudo são flores, e se de um lado o público era assíduo e leal, de outro alguns clientes passavam do limite – mesmo sendo a pegação inerente a qualquer balada. Identificar e conter o assédio ainda é um desafio nas casas noturnas. Na Wood’s, não era diferente. A publicitária Steffany Matias afirma que, hoje em dia, jamais pisaria numa balada assim:
“O ambiente me fazia sentir como um objeto. Os homens tocavam e puxavam as mulheres. Se você estava bêbada, eles se achavam mais ainda no direito. Claro que não eram todos, mas a impressão geral é o que fica. Hoje, eu percebo isso”
A estudante Andressa Silva frequentou a Wood’s durante os 3 últimos anos de funcionamento da casa. Ela diz que o assédio acontecia com frequência, assim como ocorrem em outras baladas sertanejas: “era homem puxando você pelo cabelo e tudo mais, mas vi que em algumas situações os seguranças ajudavam as vítimas quando isso acontecia”.
Ascensão e queda
Nos tempos áureos, a Wood’s era uma das casas noturnas mais badaladas de Curitiba. Aos fins de semana, dependendo da lotação, podia ficar quase impossível de dançar: “ainda me lembro de que quando um casal começava a dançar rodado, batia em todo mundo”, relata Rhaman.
Em compensação, os clientes mais observadores descobriram nas quartas-feiras a oportunidade para curtir com mais tranquilidade a música sertaneja. Era o que fazia Steffany em 2015: “às quartas, as pessoas não bebiam tanto e respeitavam-se mais. Acho que por ser meio da semana, ninguém enfiava o pé na jaca”, sugeriu.
Para pedir uma bebida no balcão, ela conta que era “a lei do mais forte”. O Rhaman discorda, dizendo que a Wood’s tinha vários bares e era muito bem estruturada. Mas ele também preferia as quartas-feiras: “num fim de semana, era show da Thaeme&Thiago e não consegui assistir porque estava cheio demais”.
Em algum momento, a casa entrou em declínio. Clientes atribuíram a queda à então recente abertura da Shed, a nova balada que vinha concorrer com a Wood’s, atendendo o mesmo público de elite sobre o qual comentou Rhaman. Alguns culparam a crise econômica. Ou até mesmo o acolhimento de clientes com menor poder aquisitivo, que gastariam menos lá dentro, impedindo que o negócio lucrasse.
O fato é que a massa do bolo desandou. Mas a história fica. A casa foi pioneira na promoção da música sertaneja em Curitiba e até hoje, o mercado das casas noturnas pega carona no nicho que a Wood’s crrou. Em algum momento, lá atrás, o sertanejo começou a bombar. O engenheiro e empresário Luiz Mil Horlle soube enxergar o legado que a balada sertaneja nos deixa:
“A Wood’s trouxe o sertanejo pra galera da cidade. Antes disso, havia uma cultura urbana que tinha vergonha de curtir o estilo. Foi um movimento muito legal que aconteceu a partir dela.”
Últimas palavras
A Wood’s encerrou suas atividades com uma mensagem ao público que escreveu as páginas desta história ao longo dos 13 anos. O Curiti.bar recuperou o comunicado original. Leia o texto na íntegra:
Manifesto Wood’s Curitiba
Obrigado noite curitibana,
Foram 13 anos que marcaram a história de muito baladeiro! Mas como tudo na vida tem prazo de validade, o dia de encerrar esse ciclo chegou. De darmos adeus a casa sertaneja mais badalada, a nossa Wood’s Curitiba.
Mas quem conhece a gente sabe, aqui a tristeza sempre pulou de alegria e agora, não vai ser diferente. O que fica é o orgulho de ter proporcionado noites inesquecíveis, por ter sido palco de duplas que se consagraram Brasil a fora. Alegria por ter formado casais apaixonados, por ter reunido velhos amigos e ajudado a conquistar outros para a vida toda. E as ressacas, o que falar delas?! Por trás de cada uma existiu no mínimo uma história hilária….
Nos divertimos sem pensar na hora de voltar para casa, cantamos sem nos preocupar com afinação, a última saideira sempre virava lenda e depois a culpa ainda era do gelo. Seja na Wood’s Bacacheri ou no Seminário, todo mundo tem uma história para contar. Ah, como tudo valeu a pena! O sentimento que fica é de gratidão e dever cumprido, pois temos a certeza de que passamos por muitas fases sim, mas zeramos o jogo com objetivo atingido: proporcionar noites únicas para quem gosta de se divertir!
E por falar em noite inesquecível, nada mais justo que encerrar os trabalhos fazendo o que a gente mais fez nesse tempo: se divertir! Por isso, 06 de junho é dia de chamar todos os amigos para se despedir da Wood’s Curitiba como nos velhos tempos! Venha tomar umas, cantar, se divertir e curtir um show que encerrará as atividades da casa que marcou as noites curitibanas com artistas que fizeram parte desses anos de história.
Wood´s Curitiba