A Biblioteca Pública do Paraná inaugura neste sábado (2) a “Estante Afro — Maria Águeda”, um acervo dedicado inteiramente à produção literária negra. Ao todo, mais de 500 livros de autores negros passam a fazer parte do acervo permanente da biblioteca. Um marco na história da cultura de Curitiba.
Com isto, a Biblioteca passa a ser uma das poucas instituições do Brasil que possui um acervo totalmente dedicado à literatura negra. Trata-se de garantir que todas as vozes tenham a oportunidade de serem ouvidas, ampliando o diálogo sobre a identidade racial.
Maria Agueda, que dá nome à estante, é um ícone da história afro-curitibana. Em 1804, esta mulher negra e livre, foi interpelada na frente da catedral e se posicionou com dignidade perante as arbitrariedades da elite da época, tornando-se um símbolo de resistência e de luta pela defesa de direitos e promoção do respeito em Curitiba.
A partir de agora, ficam disponíveis para consulta pública obras como Um Defeito de Cor (Ana Maria Gonçalves), Brasil Afro Alto Revelado (Miriam Alves), Os Últimos Inéditos de Prosa e Poesia (Cruz e Souza), As Andorinhas (Paulina Chiziane), entre outros títulos. Essas obras podem ser usadas como recursos educativos para promover a conscientização e incentivar discussões construtivas.
O extenso acervo foi uma doação do Centro Cultural Humaitá, por intermédio de Adegmar José da Silva (Kandiero). Elas vêm sendo reunidas desde 2006, quando foi criado o Centro. Kandiero pontua a importância deste momento:
“O acervo era para o Centro de Referência da Cultura Afro, que quase se tornou realidade no Viaduto Capanema, em 2016. Com a impossibilidade de concretizar este sonho, encontramos na Biblioteca Pública do Paraná uma parceria importante para dar continuidade ao esforço de valorizar e dar visibilidade à história e cultura afro no Paraná”.
História que já vem de antes
A pesquisadora Melissa Reinehr lembra que a Biblioteca Pública do Paraná tem um laço com a cultura afro desde antes da sua inauguração. Ela e Kandiero são guias de turismo na Linha Preta, projeto que faz passeios por pontos do Centro Histórico de Curitiba marcados pela presença negra. Deste 2015 imersos neste estudo, depararam-se com a história de Enedina Alves Marques:
“A Biblioteca Pública do Paraná é um ponto de memória relevante para a história afro-curitibana, pois a engenheira Enedina Alves Marques participou de sua construção. A primeira mulher engenheira do Paraná e primeira engenheira negra do Brasil é reconhecida, não apenas pelo seu pioneirismo, mas pela maestria nos cálculos e rigor das obras que acompanhou, dentre as quais se destaca o Colégio Estadual do Paraná e a Usina Capivari-Cachoeira, na Serra do Mar.”
O valor dos autores negros na Biblioteca Pública
Para que uma biblioteca pública cumpra a sua missão de ser um centro de conhecimento, cultura e inclusão, é essencial que ofereça um acervo que reflita a pluralidade da sociedade e valorize as vozes dos grupos étnicos. Nesse contexto, a presença da Estante Afro — Maria Águeda é um componente vital para a promoção da diversidade, representatividade e educação.
Sendo assim, a Biblioteca Pública do Paraná fortalece sua relevância e impacto na sociedade. Ao enriquecer o ambiente cultural e literário, a instituição se transforma num espaço onde a multiplicidade de vozes é celebrada.
Um acervo de autores negros empodera indivíduos e comunidades, envia a mensagem clara de que suas vozes têm poder e importância.
A literatura é um convite para explorar diferentes perspectivas e realidades, para se aventurar em territórios desconhecidos da experiência humana. A inclusão de obras de autores negros dentro desse mosaico literário é fundamental para que a biblioteca se torne um espaço acolhedor para todos. Afinal, ao folhear as páginas de uma variedade de livros, os leitores devem encontrar reflexos de suas próprias vivências e, ao mesmo tempo, ter a chance de mergulhar nas histórias e culturas diferentes.
Com informações de Rodrigo Juste Duarte e Biblioteca Pública do Paraná.
P.S.: Queridos leitores, eu ainda não sou muito versada nos estudos da branquitude, então se houver erros de semântica, peço com gentileza que me corrijam. ☺️